Passamos de aspirantes a um mundo perfeito (ou suportável) a candidatos a uma vida perfeita (ou tolerável) porque quando damos um chuto no mundo para ele se ajustar às nossas pretensões não ganhamos mais do que luxações nos pés e revolta no espírito.
Depois, como não conseguimos a vida com que sonhámos (muitas vezes porque nos limitamos ao devaneio durante o sono sem nos atrevermos a acordar), canalizamos a nossa energia para o aquário perfeito, o melhor sistema de home cinema, o telemóvel última geração ou o automóvel topo de gama – aumentando o cepticismo pelas pessoas e a vida em geral à medida que cresce o fascínio pelos nichos de obsessão para os quais nos viramos como se fossem altares ou imagens em que depositamos todas as nossas esperanças e devoção.
6 comentários:
Gostava de saber o que é que tens contra o melhor sistema de home cinema, o telemóvel última geração ou o automóvel topo de gama!!
O problema não está nos topos de gama mas sim na gama média.
Como diria um nosso conhecido: o problema é a puta da classe média...
Vendo Renault Clio topo de gama.O melhor extra é a ferrugem. Bom texto seu ***
Tristão à presidência!
Beks, posso ter insistido nos exemplos materiais, mas o que está em causa são as obsessões, materiais ou não, para que cada um se vira para não ter de lidar com a vida em geral.
É isso meu, anda por aí muito povo que faz de tudo para não "pegar o touro pelos cornos" e que não assume as cornadas que leva da vida. Mas tem mais nível fingir-se que se é algo do que aceitar que são apenas iguais a todos os outros...
Compreendo e concordo com este post.
A regularidade com que compro DVDs Criterion intensifica-se à medida que a irregularidade sentimental aumenta.
Mas nunca comprei um telemóvel na vida e espero não fazê-lo.
Enviar um comentário